Aluysio Righetti, produtor rural em União dos Palmares, Alagoas, aparece como figura pioneira na implantação da cultura do lúpulo no Nordeste do Brasil.
O interesse de Aluysio pelo lúpulo surgiu ao assistir um episódio do programa Globo Rural (2021) que abordava o assunto, apresentando aos telespectadores alguns produtores nacionais.
O programa destacava que as importações representavam 99% do lúpulo utilizado no Brasil, que era possível produzir a planta no país e que o preço para venda era considerado muito bom.
Aluysio entrou em contato com uma produtora rural de Teresópolis (RJ) e descobriu que ela não oferecia consultoria, mas vendia mudas.
Em novo contato conseguiu sugestões de mudas que pudessem se adaptar ao clima quente característico da região nordeste do Brasil, e encomendou o primeiro lote com 140 exemplares.
A entrega das mudas ocorreu em outubro de 2021, época considerada inadequada para o plantio na região devido à falta de chuvas e baixa umidade do ar. O plantio definitivo das mudas foi realizado apenas em março de 2022, quando as condições para irrigação eram mais favoráveis.
Paralelamente, Aluysio buscou outros consultores de lúpulo e escolheu mais 140 mudas.
Projeto Experimental e Primeiros Resultados
No total foram adquiridas 280 mudas.
No primeiro plantio, o foco não era a quantidade produzida, mas verificar se a planta cresceria e produziria, possibilitando seu plantio na região.
Percebendo que era possível fazer mudas localmente, foram produzidas mais 220 exemplares para o projeto experimental.
O projeto, com 500 plantas, foi planejado em quatro fases:
A primeira, que era verificar se o lúpulo crescia, foi bem-sucedida.
A segunda fase visava identificar as variedades com melhor produtividade.
A terceira etapa consistia em verificar se as variedades mais produtivas seriam aceitas pelas cervejarias.
Das variedades iniciais, quatro apresentaram bom desempenho agronômico e duas são utilizadas por cervejarias.
Ao longo de três anos, conversas com diferentes pessoas levaram à decisão de incluir mais uma variedade na ampliação que não fazia parte do lote inicial.
Recentemente, surgiu no Brasil a variedade americana Vista, que foi sugerida para plantio por pessoas da região Sul com quem Aluysio conversou.
Será a quarta variedade na ampliação do projeto, com a expectativa de atingir 2.000 plantas até o final do próximo ano (2026).
Manejo de Pragas e Doenças
O manejo de pragas e doenças é uma realidade na produção agrícola.
Na primeira safra, a incidência foi baixa, aumentando a partir da terceira safra.
Ataques por ácaros, nematoides, aranhas e abelhas foram observados. O trabalho atual também visa o controle desses problemas.
Considerando o ciclo produtivo rápido do lúpulo, que leva cerca de quatro meses do crescimento até a colheita, o ideal é não utilizar produtos químicos, reservando-os para casos extremos ou para o início do ciclo.
Na quinta e mais recente safra foi utilizado apenas o combate biológico, representando um aprendizado contínuo.
Reconhecimento Nacional
Apesar dos desafios comerciais, o lúpulo de Aluysio tem sido utilizado experimentalmente por cervejarias locais em Recife (seis cervejarias) e Maceió (Hop Bros e Catinga Rocks), com resultados positivos.
Além disso, o lúpulo nordestino participou da Copa Brasileira de Lúpulo, realizada em Campinas (SP) nas edições de 2023 e 2024.
Neste evento anual, lúpulos de diversas fazendas são avaliados por 20 jurados.
Em 2023, o projeto ganhou duas medalhas de prata com as variedades Chinook e Triple Pearl.
Em 2024, conquistou outra medalha de prata com a Triple Pearl.
O evento avalia 15 variedades e concede medalhas de ouro, prata e bronze.
Com a chegada de uma máquina para peletizar o lúpulo e a experiência acumulada, o projeto de Aluysio Righetti em União dos Palmares se prepara para os próximos passos, buscando consolidar a produção de lúpulo de qualidade no cenário nacional, partindo do Nordeste brasileiro.
Saiba mais:
Peletização
A peletização é a forma preferida para a maioria dos produtores de cervejas caseiras, micro cervejarias e na produção de cervejas em grande escala comercial. O lúpulo é colhido, passa por um processo de secagem em estufa, em seguida é triturado e posteriormente prensado (pellets). O insumo peletizado é mais fácil de armazenar e de dosar nas receitas cervejeiras.
Até os anos 1970 predominava a utilização do lúpulo em flor, extratos líquidos ou apenas em pó.
Na foto: Peletizadora fabricada pela empresa Forte Lúpulo e detalhe do produto final (pellet ou pelete)
Iluminação artificial no cultivo de lúpulo
O horário de início da iluminação, a sua duração, a quantidade e qualidade da luz que vai chegar nas folhas do lúpulo irá influenciar no seu desenvolvimento.
Existem empresas nacionais especializadas no uso de iluminação artificial para o agronegócio que já estão trabalhando com a cultura do lúpulo.
Sabemos a partir de 3 anos de experiência com a suplementação de luz para o lúpulo que o seu uso possibilita a obtenção de mais de uma safra no ano, podendo chegar até três colheitas anuais nos locais mais quentes, além da obtenção de maiores produtividades na safra e de permitir o plantio fora da janela ideal. Alcançando boas produtividades e duas colheitas no ano o produtor consegue aumentar a sua rentabilidade anual, diluir mais rápido o investimento das máquinas de colheita e beneficiamento e ofertar o seu lúpulo recém-colhido mais de uma vez no ano, o que pode tornar a sua produção no país altamente competitiva com os principais países produtores.
Na medida em que vamos entendendo as possibilidades e desafios de manejar a cultura com o uso da iluminação, adquirindo maior conhecimento sobre a necessidade foto periódica e ciclo de cada variedade, assim como o momento ideal de entrada na floração, vamos progredindo no entendimento do desenvolvimento do lúpulo e como manejá-lo de forma mais produtiva em nossas condições tropicais.
Fotos: Aluysio Righetti - Eduardo Gazal
Texto: Eduardo Gazal - Recife 06/julho/2025
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